Um destes dias fui convidada, para uma
sessão partilhada, num JI com os seus intervenientes (educadores; auxiliares e
pais), para refletir sobre: A importância de dizer não às crianças.
Não é dizer Não por dizer, mas dizer Não
se necessário, quando for preciso, sem receio de traumatizar as crianças, explicando,
se necessário, o motivo da decisão.
O mais grave em educação é não
existir coerência nas decisões dos adultos perante os comportamentos das
crianças. O Não representa o
estabelecimento de limites claros promotor do desenvolvimento da criança. Mas
deve ser um Não adequado, lógico, com
significado para a situação em que é utilizado. Quando o não é, isso sim, não
só traumatiza a criança como a deixa confusa.
Essencial é definir o que são verdadeiramente
conflitos para cada um de nós e quais são os limites de cada adulto face aos
comportamentos das crianças. Procurando, em muitos casos, ignorar problemas triviais ou pouco
importantes o foco deve estar na resolução dos problemas mais importantes, refletindo
sempre no que originou os conflitos.
Ser
consistente nas decisões, mesmo quando os progenitores não têm a mesma
opinião.
O EU está situado na família, pois esta
representa o Modelo. É nela que se aprendem os limites e o modo como esta
funciona. Não têm que ser a família que não querem ser. Devem ser a família que
consideram que funciona, sabendo que as atitudes a tomar terão consequências,
pois todas as experiências contam. Por isso é fundamental que as atitudes dos
adultos tenham significado.
É neste conceito, partindo de como
somos, nas atitudes para com as crianças com quem nos cruzamos que foi também
deixado o mote de alguns livros que apesar de serem para as crianças são
deliciosamente também para os adultos.
Partindo de que tipo de pais/mães
somos e como encaramos cada comportamento das nossas crianças foi a focalização
da partilha.
“Mãe, querida mãe”, (como é a tua mãe?/como
é o teu pai?), de Luísa Ducla Soares e ilustrados por Pedro Leitão remetem para
os vários tipos de mães/pais que somos.
Às vezes temos caraterísticas de mães
galinhas e outras de mãe cuco. Por vezes somos a mãe formiga que só trabalha,
outras vezes, a mãe macaca que adora brincar. Claro que não podemos esquecer a
mãe papagaio que repete a cassete, ou a mãe águia que incita os filhos a altos
voos. Nesta analogia encontramos cada ator que representamos na educação das
crianças.
É mais importante saber dizer Não no
momento conveniente e necessário, ao invés de nem sequer olharmos para a
criança com quem partilhamos momentos chave no desenvolvimento,
transformando-se esta, pelo facto de nunca olharmos para ela, num estranho ou
podendo mesmo ser literalmente “comido” por um monstro. Situação em “Agora Não
Duarte” de David McKee onde o Não é um cliché, utilizado por tudo e por nada.
Claro que nestes factos da
paternidade não pode ser esquecido o recente trabalho de João Miguel Tavares
com ilustrações de João Fazenda.
Um livro que revela um pai, através
dos olhos de uma criança proibida de realizar os mais deliciosos prazeres. Fazendo
jus ao nome: “O pai mais horrível do mundo” é o livro mais anti-pedagógico possível,
revela-nos um pai tirano que só sabe dizer não, ou, talvez não seja bem assim...
É importante dizer não, se necessário
for, estabelecer limites, sendo essencialmente coerente nas decisões.
Mesmo que aos olhos dos outros se
seja "disfuncional" (seja lá o que isso for) ou muito horrível aos
olhos dos filhos.
Acreditar nas decisões tomadas é o
mais importante porque ser inseguro com as atitudes tomadas é o terreno mais pantanoso
que se pode pisar.
Porque quando o pai é coerente,
honesto e justo não se gosta nada, nada dele.
Agradeço
ao Jardim de Infância Casal Popular Damaia, o
convite para esta partilha conjunta e em especial à educadora Maria do Céu.
ECS
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