quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O rebanho







O rebanho
Margarita del Mazo (texto) e Guridi (Ilustrações)
Edições La Fragatina (2014)





A todos nós é atribuído um rebanho de ovelhas diferente. Já conhece o seu rebanho? Ou será daquelas pessoas que não conta carneiros pois já consegue dormir bem? Nesse caso, talvez pense que este livro não seja para si, o que duvido, pois permite explicar como é que tudo acontece.

Sem exceção, todos nós possuímos um rebanho de ovelhas diferente. Cada um tem o seu. O Miguel, personagem desta estória, tem também um. E como qualquer rebanho, faz o que todos fazem. É fácil pois, ser ovelha. Passear, dormir, comer e ajudar a dormir. Parece ser simples, desde que se siga o manual, pormenor importante, pois se isso não acontece e se foge às regras a mutação ocorre, em forma de ovelha negra. Como se pode prever pelo já enunciado e seguindo a narrativa que a ilustração da capa sugere, a ovelha negra protagonista deste imprevisto é a ovelha nº 4.
São as suas escolhas e decisões que influem no funcionamento do grupo e no repouso reconfortante ou desconfortante do Miguel.  
Com muito humor e algum non-sense, este livro aborda de modo excecional a importância da diferença no direito a dizer não e do livre pensamento. O texto, bastante reduzido mas sabiamente escolhido, relaciona-se de modo soberbo com a ilustração, também ela mesuradamente apresentada.
A simplicidade da ilustração, de técnica mista, ausente de excessos desnecessários, oferece uma narrativa gráfica fluente e concisa através de uma paleta de cores pautada pelo contraste provocado entre o branco e o preto, (o branco do espaço diurno das ovelhas e o negro da noite da criança), com apresentação ténue de algumas cores, como o verde, o azul e alguns toques de vermelho.
Destaque para pormenores que necessitam de uma leitura gráfica mais atenta e que dão um toque de cumplicidade ao leitor, como por exemplo, o mostrador do relógio nos olhos do Miguel, a aula explicativa de como funciona um rebanho, pormenores inteligentes onde a ilustração não funciona como acessório ao texto mas antes o alarga noutras leituras e narrativas, nomeadamente ao nível de leituras análogas do comportamento humano.
O final da estória revela um desfecho tranquilizador, mas não totalmente estanque, permitindo um complemento de narrativas após a leitura.
Hilariante, provoca gargalhadas francas com uma dose de carinho à mistura. Merecidamente ganhou o Prémio Melhor Álbum Ilustrado Gremio Libreros de Madrid 2014.

Elvira Cristina Silva



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