quinta-feira, 12 de maio de 2016

Todos os Escritores do Mundo Têm a Cabeça Cheia de Piolhos

Por aqui há comichão à brava. Efeitos secundários, claro está!
Neste livro entra-se num mundo mágico, os conhecedores das ilustrações de Rita Correia reconhecerão o piscar de olhos à anterior colaboração de um livro com o mesmo autor (Vaidosa, Raposa, Gulosa) logo nas guardas iniciais onde em conjunto se encontram personagens de diferentes histórias. Um apelativo convite para o que nos espera. Um balão em forma de maçã desloca-se nas páginas iniciais aguçando o apetite para a leitura e para um olhar atento à ilustração. Entramos na história que já percebemos pelo título (Todos os Escritores do Mundo Têm a Cabeça Cheia de Piolhos). É verdade uma noticia, espalha-se assim facilmente, acontecimento típico de quem ouve os meios de comunicação sem contextualizar. 
Como na realidade dos nossos dias frenéticos, o prurido alastra-se causando o caos e o alarmismo entre os demais. 
Claro que os personagens, tanto dos livros para crianças como para os crescidos, não falavam de outra coisa e não faltou o uso de champô a outras medidas drásticas de intervenção, tudo porque se espalha o boato. Mas como não havia quem desse atenção ao escritor, que tentava explicar o contexto do que disse, as sábias personagens dos livros para crianças decidiram tomar uma medida e é desse modo que surge este livro.
Confusos? Comichão na cabeça?
É bom sinal, significa que há por aí ideias boas, quem sabe: (...) "personagens novas a quererem sair" para uma história ainda não escrita.(cit adap. pág 27)
Em jeito de parábola o texto é altamente contagiante, provocando a comichão constante. A ilustração, também revela o seu sentido figurado, oferece camadas de leitura, alargam o rumo do texto e espicaçam o olhar atento para a dimensão criativa da narrativa. Os pormenores são imensos. Referências literárias e gráficas perspicazes e com sentido de humor.
Uma tesoura que acompanha a ilustradora na utilização de colagens evidencia a técnica predominante utilizada com uma cuidada coerência na escolha de materiais gráficos, evidenciando até no lettering escolhido, toda uma uniformidade gráfica desta obra.
A guarda final permite-nos ainda uma opção de saída/entrada numa circularidade narrativa. Conta ainda, muito honradamente, a par da biografia do autor e inesperadamente, ao contrário de raras boas excepções, com espaço  também para a biografia da ilustradora que muito sabiamente usou os seus piolhos na ilustração deste livro. Sim, porque tal como os escritores, também os ilustradores têm a cabeça cheia de piolhos. 

Elvira Cristina Silva

in: Newsletter nº 98 Pró-Inclusão ( maio 2016) pág. 11

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